Os Abismos da Existência no Caminho do Guerreiro

“Ao homem que use
a capacidade que
o céu lhe deu para
eliminar de seu coração
os maus pensamentos,
lhe prometo minha defesa,
o dom da saúde e a riqueza
para o resto de sua vida.”

(O Deus da guerra)

Se algum conceito geral tornou-se evidente desde que o homem começou a busca de si mesmo é aquele afirmando que quanto mais fundo penetrarmos nos abismos da existência, qualquer que seja a esfera, mais descobrirá a existência de leis básicas em uma estrutura unificada, com organização e equilíbrio de forças. Portanto, é lógico se supor que como a mente do guerreiro se manifesta em um estado consciente, ela também é governada por padrões. Estas leis básicas para a vida de um guerreiro se encontram no abismo de sua existência.

Cada lei básica está latente em um arcano mental. O acesso a cada um desses enigmas está protegido pelo símbolo do Dragão de Sabedoria, oculto em cada um dos umbrais dos Nove Arcanos que guardam hermeticamente os mistérios da Sabedoria do Guerreiro.

O processo de “transformação interna” nos leva sempre a um questionamento e a uma tomada de consciência de determinadas “partes obscuras” da mente, aproximando-nos mais de nossa “verdadeira essência”. Isso transforma o processo em algo imensurável cujo contacto se faz difícil e, na maioria das vezes, muito doloroso de ser enfrentado. Neste momento de “luta existencial” nada tem razão de ser para o guerreiro.

O autoconhecimento, ao nos conduzir às profundezas inesperadas dos abismos da existência e ao nos levar ao reconhecimento de nosso lado tenebroso, tem força suficiente para desencadear transformações que geram crises, as quais nos induzem a mudanças de personalidade que muitas vezes nem imaginamos.

A luta com desafios conflituosos provenientes do inconsciente requer continuidade de propósitos, pois simplesmente não podemos amenizar o sofrimento deste mergulho – em nossas profundidades – com defesas ilusórias, sob risco de estarmos ampliando as possibilidades autodestrutivas que existem nos precipícios da mente do guerreiro.

Na verdade as sombras da ignorância que dominam os abismos da mente do guerreiro se contrapõem à luz do conhecimento de sua consciência. As diferentes perspectivas pelas quais se apresentam determinados conflitos internos surgem a partir de influências das próprias emoções do guerreiro, fazendo-o lidar com tais entraves de maneira agradável e simples, ou desagradável e autodestrutiva.

Todo guerreiro tem uma “metade obscura” – sua ignorância – e esta parte tenebrosa se encontra à espera da Luz nos abismos da existência. Com razão dizia o psicanalista suíço Carl Jung que sem pecado não há arrependimento e sem arrependimento não existe redenção. Justamente por isso é importante que o guerreiro tome a “lâmpada de Diógenes” para dissipar as sombras da ignorância e resgatar a luz do conhecimento ou Gnose, como a chamavam os grandes filósofos gregos.

Sobre esta Luz da Gnose, ensina o grande filósofo mexicano Samael Aun Weor que a Gnose é um funcionalismo perene e natural da Consciência.

Por isso qualquer pessoa que se considere um “Guerreiro da Luz”, por ter percorrido o “Caminho dos Vencedores” e os “Caminhos do Inca”, não terá a menor dúvida de aventurar-se em outra heróica jornada por seu próprio inferno dantesco. De outra forma, as forças maléficas se tornariam explicitamente excessivas e destrutivas.

Uma vez que corrijamos as manifestações dos “ímpetos pecaminosos”, ou seja, que separemos a realidade dos cardumes de “maya” ou ilusão que a envolvem, nos aproximaremos de limites perigosos que, se ultrapassados, implicam numa aventura muito difícil. Estes pontos marcantes representam verdades específicas de um momento mental que normalmente muitos guerreiros preferem evitar. Se os obstáculos existem é porque eles devem ter alguma utilidade e, talvez, encubram alguma zona delicada com uma obscuridade às vezes saudável ao Guerreiro da Luz.

O caminho de solução dos conflitos que cada simbólico dragão impõe ao guerreiro gera um impacto tão grande que fazem o lutador entender que esta força resultante se encontra latente em seu interior, à espera de ser ativada e dirigida de acordo com os limites estabelecidos. Cada desafio dialético estabelecido por cada um dos “Nove Dragões”, verdadeiros guardiões das Nove Leis do Guerreiro, nele gerarão maravilhosas forças propulsoras que o levarão a novas mudanças de paradigmas.

O autoconhecimento é uma aventura que nos conduz às inesperadas profundezas do microcosmo-humano, sendo sempre doloroso o desencadear de perturbações difíceis de dominar. Mas sempre poderemos transcender estes obstáculos temporais e todos os nossos medos para conseguir discernir a realidade dos “cardumes de ignorância” que a envolvem.

Portanto, podemos vislumbrar que na parte mais recôndita do abismo da existência de cada Guerreiro subjaz o Senhor do Mundo Interior, o Dragão dos Abismos, trazendo em sua estrutura os opostos inter-relacionados: Sombra e Luz.

Fernando Salazar Bañol