1ª Lei – O Dragão Adormecido

Na mitologia oriental o dragão era o guardião
dos tesouros velados e dos segredos fabulosos.
Esta criatura de escamas é o símbolo
de um poder vertiginoso e implacável.

Geralmente as moradas favoritas dos Dragões de Sabedoria são uma gruta impenetrável, um cume inacessível, um lago profundo, o coração de um vulcão, ou ainda os abismos profundos da natureza humana.
No inicio de sua jornada pelo sendeiro do abismo de sua própria existência, o Guerreiro da Luz encontra um Dragão Adormecido, zeloso Guardião da Primeira Lei.
O acesso a este sendeiro está caracterizado por duas colunas torais: uma branca e outra negra, que se destacam de um ambiente de caos e de suprema concentração da absorção da energia humana.
No meio das sombras de dispersão das forças mentais e da energia da autodestruição o Guerreiro da Luz descobriu um nebuloso dragão adormecido.
De repente da escamosa e quase mumificada pele do dragão começou a sair uma substância vaporosa de cor ultra-violeta, a qual imobilizou completamente o corpo do guerreiro.
Esta substância hipnotizou sua mente e, penetrando no mais recôndito de seu ser, o fundiu e o integrou ao próprio dragão. A partir deste momento o guerreiro deixou de ser humano para transformar-se em um dragão, sentindo e pensando como ele.
Agora, transformado no próprio Dragão Adormecido, sentia sua consciência hipnotizada, cheia de uma intensa obscuridade atemporal. Uma obscuridade que não tem centro ou periferia, fronteiras ou limites. Percebia o Guerreiro a penumbra da consciência adormecida ou a inconsciência da inconsciência.
Através da visão interior do dragão o guerreiro observava que o Dragão Adormecido vivia no fosso da ignorância, onde o tédio, a inércia, a dispersão e a depressão eram as quatro estações climáticas que regiam sua órbita de deslocamento do “meu” para o “meu”.
O fosso existencial onde vivia o Dragão Adormecido não tinha explicação compreensível, havia somente a obscuridade ilimitada. Este Dragão não tinha pés, porém caminhava; não possuía olhos, porém via; não era dotado de ouvidos, porém escutava. Estava em todas as partes e ao mesmo tempo em parte nenhuma. A ausência da luz era sua morada, assim como a falta de sabedoria era sua guarida.
Observava e se alimentava da lava ardente que vomitava o vulcão do ódio quando entra em erupção. Hidratava-se de bebidas gasosas como a melancolia e a letargia. Não tinha dentes, porém devorava tudo o que engolia. Não possuía olfato, mas inalava os pestilentos gases sulfurosos que destilava a cratera do estancamento.
Suas escamas estavam feitas de pedaços de sombras. Era sem forma, porém podia assumir qualquer aparência que desejasse. Sua forma favorita era a inconsciência da ignorância. Tinha o poder de assumir as formas mentais que o guerreiro guardava na intimidade da psique.
Em um momento estranho de lucidez o Guerreiro da Luz com todas as forças de sua alma desejou sair do interior do Dragão Adormecido. Começou a lutar contra as forças sombrias da letargia de sua consciência, quando de repente escutou uma doce voz que vibrava com harmonia dentro do universo do dragão. A melodiosa voz disse ao guerreiro:
– Desejas libertar-se da hipnose do dragão para voltar a transformar-se em humano ?
– Claro que sim, mas quem está falando de dentro dessas sombras ?
– Sou eu, Pistis Sophia !
– Pistis Sophia ?
– Sim, eu sou teu Poder-Sabedoria que se encontra no centro de luz de teu coração de guerreiro !
– Então me diga como posso me libertar das correntes da ignorância que são os grilhões mentais que me mantém aprisionado ao interior do dragão ?
– Terás que enfrentar o dragão com a Luz do Conhecimento e com o Fogo da Sabedoria, que é o único fogo a que ele não resiste, uma vez que os demais fogos como o do ódio, o da depressão e o da inatividade são suas sobremesas preferidas.
– Será que terei alguma esperança de me emancipar das redes da entropia às quais estou preso e transformado de forma negativa ? De que tipo de conhecimento e de sabedoria estás falando ?
– Estou falando do “conhecimento”, da Primeira Lei do Guerreiro da Luz, e do exercício dela, o qual gera a conquista da sabedoria que está nela contida.
– E existe alguma esperança de que eu possa acessar esta Lei ?
– Claro que sim, porque ainda conservas teu espírito de luta !
– Então você pode me revelá-la ?
– O Decreto da Primeira Lei é “Não existem amigos ou inimigos, mas sim aliados em nosso processo de transformação. Aquilo que não aprendemos com os amigos teremos que aprender com nossos inimigos”.
– Não entendo esta lei. O pouco que tenho bem claro nesses momentos é que o Dragão Adormecido é meu inimigo e que tenho que me libertar dele.
– Não podes chamar o Dragão Adormecido de inimigo simplesmente por estares condicionado ao paradigma da inimizade. De tua aparente prisão, desde o interior do dragão, tens que continuar observando-o, estudando-o e aprender a tirar proveito do bom – que está oculto – e do mau que há nele. Se não permitires que ele domine o ressentimento em teu coração, não existirá mais “classificação de inimigos” e sim de seres que cometem ações equivocadas, as quais trazem ocultas em si muita sabedoria.
– Isto quer dizer que este sentimento de frustração que sinto neste momento e que me leva a classificar o Dragão Adormecido como meu “inimigo” bloqueia minhas percepções e não consigo compreender as lições que a vida está me propiciando ?
– Ah, agora está novamente entrando a luz em ti !
– Que maravilhoso despertar ! Estou começando a compreender que em tudo aquilo que é bom há algo de mau, e que em tudo que é mau há algo de bom. Que nenhuma criatura é suficientemente boa ou má.
E dizendo estas últimas palavras o guerreiro começou a sair de seu estado hipnótico e a transformar-se de novo em um ser humano. Ao mesmo tempo o Dragão Adormecido foi saindo de sua eterna letargia, cruzou o umbral das colunas torais e, quando se afastava cada mais no sendeiro e se aproximava do horizonte, sua luz ultra-violeta foi se transformando num resplendor tão brilhante quanto mil sóis.
Sua voz retumbou no espaço pronunciando as seguintes palavras: “As duas simbólicas colunas do umbral deste primeiro sendeiro não devem estar muito afastadas porque a luz pode dissipar-se, nem muito próximas porque a luz não poderia passar pelo meio delas”.

Visualização
Visualize todos os seus inimigos dentro de seu coração. Irradie uma luz azul para eles. Expresse sua sincera gratidão pelas lições de vida que aprendeu com eles. Imagine que eles se afastam em projeção infinita no horizonte da existência e que se transformam em brilhantes luzes que iluminarão seu caminho.

Exercício
Realize uma profunda retrospecção e escreva uma lista de aprendizados que conquistou a partir dos conflitos vividos com aqueles que, no passado, você chamava de “inimigos”.

Fernando Salazar Bañol