5º Lei – O Dragão Sanguinário

É necessário alcançar o coração, a raiz do Ser.
Vencer o Dragão é vencer a si mesmo.
Esta é a razão porque as tradições sagradas
ensinam que o sangue do Dragão
confere invulnerabilidade e imortalidade.

Depois de liberar o Dragão Encantado, o Guerreiro da Luz retoma sua jornada de herói para descobrir novos mistérios e desafios que lhe aguardam no labirinto do Quinto Sendeiro.
À medida que percorre o labirinto encontra-se com os arquétipos femininos mais tentadores: Eva, Dalila, Salomé, Cleópatra,Hipólita, Isolda, Kundri e com sua própria Kaliindostânica.
A fascinação que sente o guerreiro ao defrontar-se com estas excitantes beldades transforma seu sangue numa ilusória lava vulcânica. Esta sensação narcótica é a mesma que circula nas fogosas veias de outro dragão que jaz escondido neste novo portal de sua mente humana.
O sangue do dragão é frequentemente associado à multiplicidade efervescente das pulsações e paixões que coabitam nas profundidades abismais do psiquismo. Este sangue simboliza os desejos que frequentam a noite de seu inconsciente.
De repente, num desconhecido abismo existencial, bem perto do portal, o Guerreiro da Aurora se depara com um enigmático e desafiante Dragão Sanguinário, de porte invulnerável e de aparência imortal. Este sádico dragão protege o portão de acesso ao Quinto Sendeiro.
Este dragão atroz descansa latente, em sigilo einsuspeitono mais evanescente pensamento, na caverna da impureza; esta é sua cova e seu esconderijo. Não ataca de frente os luminosos guerreiros porque é dissimulado, enganador, irônico, falso e astuto; prefere debilitar seus oponentes com a argúcia do pensamento luxurioso, da mente passional, do intelecto libidinoso, da respiração sádica e do pensamento masoquista. Este é o veneno liquefeito que injeta em suas vítimas.
Com a rapidez de um raio, o dragão vampiro aproveita a obscuridade da ignorância para morder a jugular do Guerreiro de Luz, nele inoculando nada menos que a poção da dualidade, do enfrentamento cotidiano entre o prazer e o sofrimento, a dor e a felicidade, a virtude e o vício.
O dragão carniceiro se regozija em prazer morboso ao colocar sua vítima, o Herói de Luz, na luta mental dualística dos opostos inter-relacionados: dor-felicidade, sofrimento-prazer, lascívia-pureza.
Este dragão atroz inicia sua malévola nutrição com o sofrimento produzido pela mente já corrompida do guerreiro e contaminada pela obscenidade; na agonia do confronto que sente o herói e, sobretudo, pela morbosidade dos sentidos na busca permanente do prazer; o dragão direciona-o para o abismo do erotismo ilusório, para os degraus da concupiscência, para o lodo da carnalidade e para o pântano da impudícia.
Vãos são os esforços do Guerreiro da Luz para sair dessa alucinação, porque com frequência este dragão se transforma, como a Hidra de Lerna que com suas inúmeras cabeças simboliza a multidão efervescente das pulsões e paixões que coabitam nas profundidades do psiquismo do luminoso titã. Estas cabeças são todos os desejos que frequentam as sombras de seu subconsciente: basta que se corte uma para que outra renasça!
À medida que se funde na fossa da fornicação, percebe o brilhante colosso, cada vez mais dividido na luta de antíteses, que seu universo interior se colapsa a ponto de sentir que mais além de seu fastio, inércia e decepção, existe um “Vazio Iluminador”.
A partir do centro de luz desse espaço resplandecente, o Guerreiro observa o surgimento da imagem arquetípica de Eva. Mas não aquela do pecado original, mas sim uma espécie de Vênus-Eva sublimada. Ao se encontrarem, um frente ao outro, observa que os olhos dela brilham não com luxúria e sim com luz angelical. Este estranho fulgor o inspira a se recuperar de sua concupiscência.
Depois deste choque consciente o guerreiro sente o impulso de contemplar de forma serena não somente os olhos de Eva, mas de ir mais fundo, de penetrar nas íris das pupilas daquela mulher misteriosa. Ao contemplar estas janelas da alma, o radiante guerreiro vê seu reflexo nos olhos dela, como um espelho que reflete sua divina Realidade, da qual emana radiante sua Pistis Sophia interior.
De repente, de forma misteriosa, Pistis Sophia, a partir da íris de Eva, se projeta como uma imagem holográfica, dando início ao seguinte diálogo:
-Pistis Sophia: Diz-me, refulgente guerreiro, o que buscas no perigoso terreno dos olhos de Eva ?
-Guerreiro: Liberar-me das sombras escuras de que sou prisioneiro por causa do veneno inoculado pelo Dragão Sanguinário.
-Pistis Sophia: A suprema vitória que deves obter sobre o dragão lascivo é através da luz da sabedoria, valendo-se da não confrontação e da não violência dos sentidos. Também deves resolver esses dualismos sem luta, permitindo assim a emanação e liberação de teu próprio Dragão Feroz.
-Guerreiro: Porém como posso emancipar-me da luta interior entre meus extremos opostos de luxúria e castidade?
-Pistis Sophia: Por meio da transmutação e da sublimação. Simbolicamente falando ”o caminho que conduz para fora também pode te levar para dentro, onde está teu ponto de mutação”.
-Guerreiro: Tuas sábias palavras eletrizam meu ser, vivificam meu coração e despertam em mim maravilhosas harmonias que ficaram escondidas no pântano daimpudícia.
-Pistis Sophia: Chegou o momento em que não podes mais negar os Mistérios que estão adormecidos na tua sexualidade humana, realizando assim uma circunavegação em tua alma.
-Guerreiro: Diz-me, ó Poder Sabedoria: que chaves secretas podes me revelar para emancipar-me do cativeiro de minha impureza?
-Pistis Sophia: Deverás empreender uma jornada transformadora, aprendendo a viver a arte do amor como um “processo ideal” para chegar à Divindade; para converter toda sexualidade grosseira em erotismo animado pela alma e afastado de toda fornicação.
-Guerreiro: Isso me parece impossível!
-Pistis Sophia: Consta que os antigos cultos religiosos na Grécia, Caldéia, Pérsia, Egito e Roma foram de natureza sexual. O hierofante, anelando ser consagrado nos Mistérios e iniciado de forma correta e solitária na “experiência sagrada”, deveria adquirir sua consagração pela união sexual com a divindade, representada pelo seu esposo-sacerdote ou pela sua esposa-sacerdotisa – a força e a inspiração para alcançar uma vida superior. No culto sexual sagrado o “casal normal” aspirava reunir em si e refletir a bênção de ser o “casal divino”.
-Guerreiro: Será que eu posso vivenciar estes Mistérios?
-Pistis Sophia: É obvio que sim, já que o mereces pelo teu “espírito de guerreiro”. Prestas muita atenção porque se aplicares durante o resto de tua mítica jornada a Quinta Lei do Sendeiro do Dragão, poderás converter-te também num hierofante dos cultos antigos, conforme te mencionei. Grava em tua radiante armadura esta revelação: “A suprema vitória consiste em resolver os conflitos sem luta, levando assim luz e sabedoria que permitam a evolução de teu adversário”.
-Guerreiro: E qual é meu principal adversário?
-Pistis Sophia: Teu próprio DragãoSanguinário!
-Guerreiro: Com todo respeito, mas estás me falando com muitos enigmas.
-Pistis Sophia:Na Índia o Dragão, primeiro ancestral dos habitantes da Cachemira, valendo-se de sua mudança de paradigmas, transformou-se num personagem metade homem metade dragão. Assim também deverás tu, Guerreiro, converter teu Dragão num ser valente e possuidor de simbólica e incomparável beleza. Para render-lhe homenagem deverás cobri-lo com alegóricas joias, frutos de sua “alquimia interior”, adornando sua cabeça com uma mítica coroa e suas orelhas com aros de ouro. Este mutante dragão interior deverás chamá-lo de “Brilhante Vestígio”, resplandecendo-o nas profundidades de teu psiquismo para dissipar as sombras de tua ignorância.
Ao finalizar estas palavras, a projeção holográfica de Pistis Sophia retornou à Íris de Eva, e elaregressou ao vazio iluminador do microcosmos do Guerreiro da Luz, o qual abandonou de forma triunfal este portal para encaminhar-se para o Sexto Sendeiro.

Fernando Salazar Bañol