4ª Lei – O Dragão Encantado
Abatido pelo Arcanjo ou transformado
em Príncipe Encantado,
o Dragão sempre encarna o último obstáculo,
a última etapa, a prova final de
realização do ideal gnóstico.
Em todas as épocas os seres humanos consideraram o Dragão com um mistura de terror, veneração e estranha cumplicidade, como se essa criatura fosse o reflexo brilhante e vibrante das profundezas mais secretas, dos espaços mais herméticos, das dimensões mais insondáveis da alma humana.
No espaço hermético – outro abismo cósmico da existência – o Guerreiro de Luz viverá com um novo Dragão uma proeza fantástica. Este novo desafio será com o Dragão Encantado, que domina o poder da Metamorfose, a arma sutil usada por ele para proteger o portal de acesso ao Quarto Sendeiro.
Depois de vencer o Dragão Negro, a torrente de energia divina cor esmeralda irradiada pelo Guerreiro de Luz iluminou o portal que dava Passagem a um estreito sendeiro adornado com “estátuas de sal”.
Suas resplandecentes emanações esmeraldinas lhe permitiram visualizar, no final do sendeiro, um monumental Dragão petrificado, junto com as demais estátuas de sal. E ainda foi maior sua surpresa ao ver em frente ao Dragão, em atitude contemplativa, ninguém menos que Pistis Sophia.
Sem pensar ou titubear o Guerreiro de Luz indagou a Pistis Sophia:
– Venerável Ser, diga-me o que fazes aqui nesta atitude observadora ?
– Admirando o Dragão Adormecido, respondeu com sua voz milenar.
– E por que o admiras ?
– Queres saber ?
– Sim !
– Senta-te tranquilo e escuta com tua compreensão e não com teu intelecto.
O Guerreiro de Luz obedeceu às indicações e sentou-se em posição meditativa para ouvir com atenção as reveladoras palavras. Então Pistis Sophia falou:
– Este Dragão Encantado é a Metempsicosis de tua alma no Ego. É o feitiço primordial que te faz ver, por meio do ilusório, a imagem no espelho como se fosse o objeto real. O Dragão Encantado é a Maya (ilusão) dos hindus que te faz ver uma serpente onde somente há um pedaço de corrente. Ele é o Iblis tentador dos muçulmanos, o encantamento primário produto de teus apegos a tudo que é mundano. O Dragão Encantado é teu Ego camuflado, disfarçado como voz da intuição, da sabedoria. É teu pseudo conselheiro, o mago da falácia que te dirige pelos caminhos da falsidade e do engano.
– Este Dragão Encantado é teu Ego transmutado, transformado, transubstanciado, metamorfoseado, capaz da mais poderosa hipnose, um verdadeiro mago dos sortilégios, da camuflagem e do feitiço enganador.
– Mais além, nas recônditas profundezas de teu Ser, no insondável de tua interioridade, na obscuridade sem limites, o Dragão perambula como um predador silencioso, ágil, astuto, pronto para saltar sobre sua presa ao menor descuido.
– O Dragão Encantado é o apego doentio ao teu passado inexistente e inventado pela mente, pela memória; é teu aprisionamento ao arquivo de recordações indeléveis, de pesares imaginários, de nostalgias, de ressentimentos não perdoados, de carências insatisfeitas e de frustrações do que poderia ser e não foi.
– Ele é a Maya Universal, a ilusão hipnótica que te faz crer que somente através da luta poderás resolver teus desafios, quando na realidade somente a luz da sabedoria interior te levará à vitória final.
Pouco a pouco o Guerreiro da Luz saiu do êxtase provocado por estas sábias palavras. Quando voltou a seu estado normal de consciência emanaram de sua boca muitas inquietudes que o levaram a realizar sua primeira pergunta:
– É possível libertar o Dragão Encantado dos feitiços do Ego ?
– Nobre Guerreiro, não existem coisas impossíveis e sim seres humanos incapazes.
– Por acaso existe algum sortilégio que possa quebrar o feitiço ?
– Existe e se encontra dentro de ti.
– Onde ? Onde ?
– Ali, em tua mente.
– Como o conquistarei ?
– Realizando tua própria metempsicosis, de forma consciente e voluntária.
– O que tenho que fazer para iniciar minha metamorfose ?
– Deverás renunciar ao teu passado e à tua dor.
– Por que tenho que renunciar ao meu ontem e ao meu sofrimento ?
– Para que não te petrifiques como estátua de sal, porque o Ego, como a ave Fênix, sempre renasce das cinzas da memória do passado.
– Porém as recordações de meu passado são muito importantes, graças a elas sinto-me vivo, elas me dão identidade…
– Amado Guerreiro da Luz: será que ao tentar viver teu turbulento presente pretendes, como o avestruz, fugir de teus problemas escondendo tua cabeça na estéril terra do passado? Será que ao refugiar-te no teu ontem pretendes evadir-te de teu efêmero mundo?
– Digo-te com franqueza: muitas vezes me senti feliz ao evocar minhas lembranças mais gratificantes porque a felicidade é a recordação do prazer.
– Advirto-te que se continuares com este falso paradigma de “viver no passado” terminarás teus dias como o Orfeu da mitologia grega, que por sua impaciência e dúvida “olhou para trás” causando a perda definitiva de sua amada Eurídice.
– Com total transparência te digo que teus conselhos me levariam ao extremo de destruir minha história pessoal.
– De acordo com certas “tradições sagradas” o guerreiro, a partir de determinado nível do Sendeiro Espiritual, deve avocar para si a prática de eliminação do passado pessoal como algo inevitável.
– Então, a essas alturas do sendeiro hermético não tenho mais opções ?
– Se desejas com fervor descobrir e conhecer a Quarta Lei do Guerreiro da Luz não tens mais opções. Tenha sempre presente que “as ideias velhas se descartam e se ajustam às novas”.
Ditas estas palavras finais Pistis Sophia se desvaneceu na distância do sendeiro das estátuas de sal. E o Guerreiro de Luz chorou com tanta intensidade que suas lágrimas inundaram de tal modo o lugar que a estátua petrificada do Dragão Encantado ficou coberta. As lágrimas do Guerreiro derreteram os cristais de sal que cobriam a verdadeira forma do Dragão. O feitiço foi quebrado e o Dragão de Sal foi metamorfoseado em um belíssimo Dragão de Cristal de quartzo.
Dos cristalinos olhos do Dragão transmutado brotaram também lágrimas de indescritível beleza. Ao mesmo tempo que o Dragão chorava de felicidade de sua garganta emanaram estas tonantes palavras:
Por dar-me a liberdade te revelarei a Quarta Lei: A maior vitória não é lutar e vencer. A maior vitória é quando nos valemos da luz da sabedoria e, sem lutar, conseguimos resolver os desafios.
Visualização
Lembrando que o “rio nunca corre para trás” imagine-se como sendo um grande rio que dirige sua torrente para o Grande Oceano da Vida, que é o próprio amor do Criador. Quando chegar à fusão das águas escolha: a) tomar um gole da água deste oceano. b) fundir-se com essas águas tão maravilhosas e repletas de forças renovadoras.
Exercício
Responda a si mesmo as seguintes questões:
Meu modo de pensar é flexível ?
Estou aberto para o novo ?
Quais são os falsos paradigmas que escravizam minha mente no passado ?
Fernando Salazar Bañol